Internet e processos sociais

Da redação do grupo terra - Alberto, Angela, Giselle, Berenice, Fabiana e Karina

Como podemos pensar a idéia de interesse público a partir da narrativa escolhida?

A cada dia o jornalismo deixa o modelo da imprensa de opinião para assumir decididamente o modelo da imprensa empresarial como um sistema industrial de serviços voltados para prover o mercado de informações segundo o interesse das audiências. A mudança de modelo implicou na reestruturação de padrões de comportamentos e disposições. Suprir o mercado de informações num estado de enorme concorrência, para um conjunto de consumidores com a maior quota de tempo livre e com o maior poder de escolha da história da humanidade, num ritmo de produção cada vez mais acelerado e para atrair uma audiência distraída, dotada dos interesses os mais diversos e cada vez mais distanciada da vida política – eis o propósito, a meta e a razão de ser do jornalismo empresarial contemporâneo.

O modelo da imprensa empresarial é o adotado no portal Terra. Podemos identificar claramente a mercantilização de informações (como em qualquer outra grande mídia do país), quando muitas vezes a notícia provém de uma agência de notícias (BBC, REUTERS, AFP etc), apenas na editoria Brasil e de temas nacionais as matérias são da redação do Terra. Já o jornalismo de opinião não existe no portal deixando de lado o interesse público e se contrapondo ao discurso de auto-legitimação de uma corporação jornalística.

Para Wilson Gomes, no discurso de auto-legitimação da corporação, o importante é assegurar que o jornalismo não deve ser concebido como um ramo de negócios ou de serviços industriais quaisquer, porque assume tarefas essenciais para o mais amplo benefício da sociedade, especialmente o que respeita à vida cultural e política.
No jornalismo brasileiro a categoria que se considera valor universal corresponde a uma instância da sociedade tão difusa como imprecisa, mas com enorme poder de gerar veneração e culto a quem o jornalismo responde, representa e serve. E quanto maior o valor de culto da "opinião pública" tanto maior é o grau de legitimidade social da instituição social encarregada de protegê-la, defendê-la, velá-la.

Como essa narrativa se relaciona com processos sociais no ciberespaço e no mundo off-line?

Até agora não há qualquer evidência sustentável de que os meios de massa possam perder o seu lugar de controle da esfera de visibilidade pública. A internet, nesse caso, não lhes representou uma ameaça, mas uma oportunidade, pois crescentemente a indústria da informação simplesmente se concede uma espécie de sósia digital. A clonagem digital dos mais importantes meios de massa já é extremamente extensa no que diz respeito ao jornalismo impresso e é progressiva no que tange ao jornalismo de televisão e ao radiojornalismo.

Assim nos grandes portais de notícias a narrativa se relaciona com os processos sociais de forma muito parecida. As notícias do ciberespaço e do mundo off-line são praticamente as mesmas. Todas provêm da mesma fonte: das agências de notícias e das assessorias de imprensa. O que se pode destacar como diferença entre as esferas é a questão da interatividade. A internet proporciona a possibilidade de interações diversas, mas os grandes sites de notícias não exploram a fundo esta capacidade; no máximo o que se vê é a possibilidade de se comentar uma matéria através dos fóruns ou na própria notícia. Qualquer coisa além, como o fale conosco, é muito semelhante a interação vigente nos veículos de informação do mundo off-line.

No portal Terra não é diferente e é pior. O portal não oferece espaço para comentários e, apesar de apresentar a ferramenta “Vc repórter”, esta não possui expressividade quando fica restrita numa área específica do portal e necessita passar por filtros para sua publicação. Também a narrativa das notícias é pobre em relação às possibilidades da internet quando limita demais a multilinearidade da informação. Uma melhora neste quesito pode ser verificada apenas na matéria de destaque do dia.

É inegável o valor e o sentido da internet para a sociedade civil organizada, mas o que se nota é que a grande mídia na internet não explora esta possibilidade, mantendo assim o “controle” vigente na mídia de massa da esfera off-line, com ajustes mínimos que buscam enganar o público para o uso da tecnologia.